A Língua das Mariposas - um filme sobre educação e o fascismo como destruidor de uma educação libertária

Realizado por José Luis Cuerda, em 1999, na Galiza, o filme retrata a realidade social e educativa dos anos 1930, no momento da investida fascista contra os republicanos que desencadeou a Guerra Civil Espanhola (1936 a 1939). Com algum rigor socio-histórico, podemos aqui reconhecer um pouco do que seria a nossa vizinha Galiza, na época. 

Na base da narrativa estão três contos de Manuel Rivas - A Língua das Borboletas, Carmiña e Un Saxo na Néboa. 

O filme retrata aquilo que em pedagogia designamos como "educação nova", um movimento que perspetiva a educação na base do diálogo, da relação com a natureza e da descoberta por parte das crianças e de um trabalho de orientação e de cuidado por parte da/o docente. No filme, são apresentados vários dilemas que se colocam ao professor, D. Gregório, que ele resolve, nas circunstâncias objetivas da altura, de forma democrática. 

Paralelamente a esta narrativa do trabalho educativo de uma escola que, na altura, era só para meninos, cruzam-se outras narrativas. A do pai e da mãe da criança, Moncho, e o medo que se vai instalando na aldeia com os discursos de ódio do fascismo que avança ideologicamente, primeiro, e, pelas armas de fogo, logo a seguir. É interessante ver e analisar os diferentes papéis representados pela mãe e pelo pai, que vão acabar em lados opostos desta barricada. 

O filme termina, como não podia deixar de ser, com a prisão do professor pelos fascistas. 

Por diversas vezes tenho apresentado este filme para analisar nas minhas aulas. Por um lado, porque desmistifica a ideia de que a educação "tradicional" foi sempre anti-democrática, o que não é verdade. O movimento da Educação Nova (entre outros movimentos pedagógicos), que também teve diversos/as representantes em Portugal, antes do golpe fascista (28 de maio 1926), foi e é um movimento de educação libertária e emancipatória. Por outro, porque retrata uma realidade muito próxima da nossa — Galiza — e nos traz alguma compreensão como o fascismo foi entrando, ganhando a guerra ideológica através da propagação de falsos rumores (a que hoje se chamaria fake news) e avançou propagando o medo e discursos de ódio. 

Disfrutem. Espero que gostem tanto do filme como nós. 

15.ago.2021
Maria José Magalhães

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