Mélenchon, da união das esquerdas (NUPES), reclama vitória e diz que partido presidencial foi “desfeito”
No discurso da noite eleitoral, Mélenchon apelou a “um futuro de harmonia
entre seres humanos, livres das dominações sociais, culturais e de género, um
futuro de harmonia entre os seres humanos e a natureza”, numa clara afirmação
de luta por um programa Ecossocialista.
O jornal Le Monde refere que, segundo dados oficiais, o partido de Macron –
Juntos! obteve 25,75% e a Nupes ( Nova União Ecológica e Social do Povo) 25,66%,
neste primeiro turno de votação em França.
O líder da coligação que junta várias forças de esquerda — designadamente a
França Insubmissa, o Partido Socialista francês, o Partido Comunista francês e
a Europa Ecologia Os Verdes — considerou que, nesta primeira volta, o partido
presidencial “foi derrotado e desfeito”.
“Pela primeira vez na
Quinta República, um Presidente recentemente eleito não consegue ter uma
maioria absoluta na eleição legislativa que lhe sucede”, frisou.
Mélenchon apelou assim que o povo se mobilize para a segunda volta das eleições
legislativas, afirmando que o resultado da primeira volta cria uma
“oportunidade extraordinária” para o “destino comum da pátria”.
“Mobilizem-se para
escancarar as portas do futuro, um futuro para o qual se mobilizaram tantas
gerações antes da nossa. Esse futuro é um futuro de harmonia entre seres
humanos, livres das dominações sociais, culturais e de género. É um futuro de
harmonia entre os seres humanos e a natureza”, sublinhou.
Mélenchon apelou designadamente à mobilização junto dos jovens — “a quem
pertence o futuro” –, mas também junto “das classes populares que foram tão
duramente atingidas por 30 anos de neoliberalismo”.
Neste discurso de cerca de oito minutos, Mélenchon dirigiu-se ainda às
forças de esquerda que compõem a Nupes, afirmando que os resultados desta noite
se devem “ao acordo histórico” que permitiu a criação da coligação.
“Quero agradecer a
todos, a todos sem exceção, que fizeram com que este acordo fosse possível, e
que conseguiram fazer com que o nosso povo compreendesse que nós estamos
prontos para governar”, frisou.
Segundo o líder da Nupes, durante a campanha para a primeira volta das
legislativas, “a unidade da coligação nunca foi defraudada, apesar das várias
tentativas que houve para a tentar quebrar”.
“A Nupes conseguiu
ultrapassar, de maneira magnífica, o seu primeiro teste: levar a cabo uma
campanha em conjunto, lado a lado, e convencer. Nas democracias, é aí que tudo
se decide: é preciso convencer. Conseguimos convencer muito”, realçou.
Mélenchon apelou a que, no próximo domingo, se vote nos candidatos da Nupes
para “rejeitar definitivamente os projetos funestos da maioria do senhor
Macron”, elencando medidas como a reforma aos 65 anos ou o que disse ser “o
trabalho forçado” para quem recebe subsídios sociais.
Em contraponto, o
líder da Nupes afirmou que, caso as forças de esquerda obtenham uma maioria
absoluta na Assembleia Nacional, “os preços vão ter um teto máximo, o salário
mínimo nacional vai aumentar para 1.500 euros” e, “daqui a um mês, a reforma
aos 60 anos vai ser debatida”.
Dirigindo-se assim aos deputados que concorreram contra a Nupes nesta
primeira volta e que foram derrotados, Mélenchon pediu que “olhem para esta
segunda volta não apenas sob o ângulo dos projetos e das etiquetas, mas sob o
ângulo do interesse da pátria e do seu povo”.
“Ao lançar este apelo
— ‘mobilizem-se, decidam por vocês próprios’ — tenho a certeza que estou a ser
ouvido pelas milhões de pessoas que, até agora, talvez nunca tivessem imaginado
que, na segunda volta, iriam poder tomar uma decisão como aquela que lhes está
a ser oferecida em 500 círculos eleitorais”, concluiu.
As primeiras estimativas da primeira volta das eleições legislativas em
França dão a coligação de esquerda liderada por Jean-Luc Melénchon e o partido
de Emmanuel Macron com cerca de 25% dos votos, com muitos duelos na segunda
volta.
Entre as estimativas feitas com os primeiros resultados saídos das mesas de
voto que fecharam às 18:00, já que nas grandes cidades fecharam às 20:00 (19:00
em Lisboa), os gabinetes de estudos apontam para uma igualdade na primeira
volta das eleições legislativas, com cerca de 25% de votos, uma perda para o
partido de Emmanuel Macron.
A União Nacional de Marine Le Pen, extrema-direita, poderá ser a terceira
força política podendo chegar aos 20%.
De forma a vencer na primeira volta, o vencedor tem de reunir 50% dos votos
que representem pelo menos 25% dos eleitores inscritos. Quando isto não
acontece, passam à segunda volta, que se realiza no dia 19 de junho, todos os
candidatos que tenham obtido votos equivalentes a mais de 12,5% dos inscritos
ou os dois candidatos mais votados.
Assim, os resultados desta noite não vão definir completamente a
configuração da Assembleia Nacional nos próximos cinco anos, já que tudo se
joga na segunda volta das eleições legislativas, em 19 de junho.
A Nupes é uma coligação eleitoral liderada por Jean-Luc Mélenchon que junta
vários partidos de esquerda, partilhando um programa comum e ultrapassando
rivalidades históricas entre partidos de esquerda radical, como a França
Insubmissa, e partidos sociais-democratas pró-europeus, como o Partido
Socialista francês.
O acordo atual partiu da iniciativa da França Insubmissa, liderada por
Jean-Luc Mélenchon que, na primeira volta das eleições presidenciais, em 11 de
abril, obteve 21,95% dos votos, tornando-o no líder incontestado da esquerda em
França.
CONVERGÊNCIA13 DE JUNHO DE 2022
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