ATUALIDADE :Jean-Luc Mélenchon faz crescer a esquerda e dirige mensagem aos apoiantes
Marine Le Pen junta ao projeto de abuso social, que compartilha com
Emmanuel Macron, um perigoso fermento de exclusão étnica e religiosa”
A candidatura presidencial “União Popular” de Jean-Luc Mélenchon criou um
forte polo popular à esquerda, alcançou o 3º lugar, a poucos votos de conseguir
ir à segunda volta e afastar a candidata da extrema-direita. A candidatura de
Mélenchon provou que a esquerda pode crescer, disputar espaço político aos
liberais e à extrema-direita, sem esperar ou ficar dependente do chamado
centro-esquerda e sem ter de esconder as suas bandeiras e o seu projeto de
sociedade.
A candidatura apresentou à população e defendeu um programa claramente de
esquerda – O Futuro em Comum – ecossocialista, competente e radical, que
colocou em evidência as fraturas sociais e ecológicas em França, afirmou uma
alternativa de sociedade ao capitalismo ao mesmo tempo que avançou com reivindicações
e objetivos imediatos. Não hesitou na veemente condenação da guerra e da
invasão da Ucrânia, e não escondeu que a submissão da União Europeia aos
interesses militares dos EUA constituem, para além de uma dependência, um fator
de instabilidade e de conflito no seio da Europa.
Mélenchon dirigiu, há dias, uma mensagem aos seus apoiantes, a propósito da
segunda volta que terá lugar no próximo domingo, dia 24, que se reproduz na
íntegra:
“Caros amigos,
Nos últimos 18 meses, vocês foram mais de 310.000 a apoiar a minha
candidatura. O vosso compromisso em tempos difíceis, a vossa força na paciente
ação de convencimento constituiu um ponto de apoio decisivo. Fomos capazes de
alcançar 7,7 milhões votos no programa “O Futuro em Comum” [L’Avenir en Commun]
e na minha candidatura. Então, o dia 11 de abril, por mais dececionante que
possa ter sido, marca também o nascimento em França de um poderoso polo popular
de rutura ecológica e social com o sistema dominante. Teriam sido necessários
tão poucos votos adicionais para a “União Popular” ter conseguido ir à segunda
volta das eleições presidenciais! A deceção é imensa. Mas não deve sobrepor-se
ao orgulho pelo trabalho realizado, nem à determinação para as batalhas que
virão, nem à responsabilidade de liderar esta força conseguida.
Haverá, portanto, a segunda volta da eleição presidencial. Ela ocorrerá sem
que tenhamos de ter qualquer voto de adesão. Ela exclui os nossos projetos e a
nossa visão de futuro. Desenrolar-se-á desafiando as nossas repulsas mais
fundamentais. Uma presidência sem autoridade moral vai ser o resultado. Mas eu
quero repetir. Durante a campanha, expus claramente o quanto essa oposição
entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen não esteve à altura dos problemas do
país, em particular diante da emergência ecológica e social. Ambos estão
frequentemente de acordo! Por exemplo, para continuar a congelar o salário
mínimo, deixar que continue a especulação dos preços ou recusar o regresso à
reforma aos 60 anos. Nenhum dos dois leva em consideração o recente alerta do
IPCC sobre as alterações climáticas, nem as que se acumulam sobre o nuclear.
No entanto, os dois não são equivalentes. Marine Le Pen junta ao projeto de
abuso social, que ela compartilha com Emmanuel Macron, um perigoso fermento de
exclusão étnica e religiosa. Um povo pode ser destruído por este tipo de
divisões. Todos nós sabemos que ela não tem equivalência a nenhuma das outras
doenças. Admito que minha apreciação aqui é tanto moral e filosófica quanto
política. Disse e repito que nem uma voz se deve concentrar na candidata de
extrema-direita. Trata-se de um alerta público veemente. Mas ir além disto
seria abusar da confiança que me concederam. Portanto, não darei outras
“instruções”, nem a cada um de vós nem aos 7,7 milhões de eleitores de “O Futuro
em Comum”. Não tenho esse mandato.
No entanto, não ficaremos sem tomar posição. Poderá expressar-se numa
consulta online para dizer qual a escolha de cada um: votar em
Emmanuel Macron, votar em branco ou nulo, ou abster-se. O resultado desta
consulta será tornado público. Mas sejamos claros: qualquer que seja o
resultado, não deve ser interpretado como instruções dadas a quem quer que
seja, nem entre nós nem para aqueles que nos ouvem e confiam em nós. Indicará
quais são nossas avaliações nas suas diversidades. Cada um vai concluir e votar
em consciência, como entender. Peço que cada ponto de vista seja respeitado.
Não vamos dar a essa dupla o ganho de nos colocar em oposição uns aos outros
sobre eles, quando estamos tão fortemente unidos nos nossos projetos. Nesse
sentido, a coesão da “União Popular” é o nosso bem mais querido. Neste momento
somos um recurso político para o nosso país que entra no impasse moral e
político dos liberais e da extrema-direita. Vamo-nos manter confiantes, ativos,
mutuamente respeitoso entre nós. O nosso número é a nossa força. Esta força vai
mostrar isso em breve, estou convencido disso: um outro mundo é possível.
Começa com o nosso compromisso. Saudações agradecidas,
Jean-Luc Mélenchon”
CONVERGÊNCIA21 DE ABRIL DE 2022
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