Trabalho: escravos/as do século 21


Os trabalhadores e as trabalhadoras do século 21 enfrentam a narrativa do mito de que, atualmente, estamos melhor, nomeadamente: há mais qualidade de vida; mais acesso ao trabalho e com qualidade. Será que estamos, verdadeiramente, melhor em termos de trabalho?

A meu ver, muitos/as trabalhadores/as são escravas/os do século 21, baixos salários, de diferentes níveis de precariedade (CEI, CEI+; "recibos verdes"; aumento do período experimental; CIT, entre outros) e do medo de represálias sempre que emitem opinião divergente dos seus superiores.

Existem muitas e possíveis realidades, contudo, as que me são mais próximas e algumas, com uma longa carreira profissional, apenas conseguem auferir cerca de 800,00€, deixaram de ter possibilidade de evoluir e, consequentemente, receber um salário digno. 

A chamada geração X e a geração millennials são, atualmente, a maioria dos/as trabalhadores/as no ativo, muitos/as possuem um segundo trabalho, refletindo a falta de um rendimento salarial justo e suficiente para fazer face às despesas. Quem vive do seu trabalho, após pagar as contas — tais como: a alimentação, casa, carro, computador, computador, entre outras — deixa de conseguir ter acesso à possibilidade de usufruir de serviços culturais e de muitos outros serviços, considerando a realidade do salário esgotar-se com o pagamento das despesas fixas mensais. 

Estas gerações são as que têm vindo a adquirir mais competências formativas, no entanto, o mercado de trabalho, na sua maioria, não está preparado para receber pessoas com habilitação superior e, deste modo, pagando-lhes um salário e digno concordante com as habilitações. 

Será que podemos saber quantos/as são as/os operadores/as de telecomunicações, vendedoras/es de loja, operadores/as de caixa, assistentes operacionais, assistentes técnicos/as,  escriturárias/os e tantos/as outras/os com licenciatura e outro nível de ensino superior? Quanto auferem estes/as trabalhadoras/es?

O setor privado possui algumas áreas de atividade em que as/os trabalhadores/as, atualmente, estão a ser remunerados/as de uma forma justa e adequada, contudo, não é generalizado para todo o setor. São ciclos e atividades que vão emergindo. No entanto, a tradicional operador/a de caixa, vendedor/a de loja e tantos outros/as continuam nos patamares inferiores da tabela da remuneração salarial. Os/as trabalhadores/as são o bem mais precioso e devem ter a possibilidade de evoluir e progredir na sua carreira, havendo instrumentos legais para esse efeito. 

No setor público, continuamos a assistir a grandes desigualdades devido, em grande parte, à revisão da Tabela Remuneratória Única (TRU) de 2008 não ter sido revista posteriormente. Há que mencionar que existem duas carreiras, nomeadamente, assistentes operacionais e assistentes técnicos/as, com graus de complexidade distintos. No entanto, na base da TRU, estão no mesmo patamar salarial, evidenciando as fragilidades da falta de revisão atual da tabela remuneratória única. Denota-se um abandono e a falta evidente de valorização profissional, particularmente no domínio técnico profissional e observamos um nível salarial baixo para as referidas carreiras profissionais. 

O Plano de Recuperação e Resiliência poderia ser o ponto de partida para a valorização profissional, assim os diferentes atores políticos olhassem para as/os trabalhadores/as como elementos integradores e catalizadores na recuperação da economia. 

2.set.2021
Maria Gomes
 

Comentários

  1. EXCELENTE ! De há muito que penso que médicos/as, enfermeiros/as, fisioterapeutas e demais pessoal hospitalar e dos Centros de Saúde não são dignamente renumerados, levando muitos/as à desmotivação e, podendo, geralmente os mais habilitados/as, tentam-se pelo privado, desfalcando o SNS.
    Também sou contra o que chamam de outsourcing, seja no público ou no privado. Todo o trabalhador/a, "intelectual" ou "manual" (rececpcionistas, operadores de caixa, de limpeza, etc.), tem direito a um salário justo, que lhe permita viver com dignidade. Sem toda a categoria de trabalhadores/as não há economia .

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    1. Bom dia. Agradecemos a partilha e os contributos.

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