A Participação das Mulheres no 25 de Abril de 1974, no Pragal, por Manuela Tavares
A participação das mulheres nos processos políticos tem sido invisibilizada pela adoção de um ponto de vista neutro em relação ao género, resultando em quase desconhecimento ou conhecimentos avulsos e fragmentados sobre a história das mulheres na vida política - quer na I República, quer no período do regime fascista (Ditadura Militar e Estado Novo) quer mesmo no Pós- 25 de Abril.
Manuela Tavares muito tem contribuído para colmatar esta lacuna. Com algumas fotografias da época, incluindo imagens de "autocolantes", a autora descreve, com o rigor que lhe é próprio, cinco grandes áreas da participação das mulheres, na antiga freguesia do Pragal, agora incorporada na União das Freguesias Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas, pertencente ao município de Almada.
As cinco áreas são:
- Alfabetização;
- Ocupação de um palacete e criação da Creche Popular do Pragal;
- Comissão de Mulheres do Pragal;
- Coro Popular do Pragal;
- Comissão Cultural da SRUP;
- Núcleo da UMAR do Pragal.
Diferentemente de outras obras em que as mulheres não são nomeadas (cf., p.ex., Rodrigues 2009(1)), Manuela Tavares, com o seu rigor historiográfico, não apenas descreve os processos em que as mulheres participaram como as nomeia. Pode ler-se, na pág. 11:
"As mulheres aderiram em maior número à alfabetização. Eis alguns dos nomes mais resilientes neste processo de aprendizagem: Ausenda Dores, Brígida Parreira, Carlota Moura, Cristina Ferreira, Efigénia Pinto, Fernanda Silva, Floripes Pedro, Guilhermina Soares, Iglantina Pernas, Isabel Anica, Isabel Cipriano, Judite Marques, Luísa Refólio, Maria do Albino, Maria das Dores Aniceto, Maria dos Santos Baptista, Odete Ferreira, Palmira Costa, Princepelina Gramaço, Rosa Rodrigues, Vitória Coutinho."
A autora também nomeia os homens que participaram. Tanto na alfabetização com noutras atividades, p.ex., na construção e criação da creche.
Nomear é fundamental para a reconstituição dos processos e da participação das pessoas. Nomear é um contributo para não esquecer. E isto é tão importante para as mulheres quanto para todas as pessoas das classes trabalhadoras e outros grupos discriminados e subalterinizados, habitualmente silenciados na história.
A autora prossegue:
"Não se pode deixar de mencionar alguns nomes da Comissão de Moradores do Pragal que deram um grande apoio nas obras e no funcionamento posterior da creche; Joaquim Albino, José da Anica, ambos pedreiros, Hermenegildo Durão, Judite Leitão, Carlota Moura, Odete Sousa e Maria das Dores Aniceto.
Pela Comissão de Gestão da Creche passaram nomes de grande dedicação e empenho como Ilda Gonçalves, Eduarda Gramaço, Graça Santos, Fátima Moura Albino, Judite Barata (…)" (idem, p. 14).
Também nos apresenta os processos de organização coletiva das mulheres: a Comissão de Mulheres do Pragal e, mais tarde, o núcleo da UMAR do Pragal. Nas suas palavras:
"Com a extinção da Comissão de Mulheres do Pragal e após a criação da UMAR a 12 de setembro de 1976, várias mulheres sentiram-se atraídas por terem um espaço próprio para falarem, debaterem e agirem. Foi criado o núcleo da UMAR do Pragal que reunia no já citado barracão do Beco do Cão. Das mulheres mais ativas do núcleo destacam-se: Ausenda Dores, Alce Fernandes, Carlota Moura, Maria das Dores Aniceto, Brígida Parreira, Fernanda Silva, Iglantina Pernas, Graça Santos, Judite Marques, Maria de Fátima Albino, Odete Sousa, Rosa Rodrigues, Silvina Costa, Vicência Silva e eu próprioa, Manuela Tavares, que pertencia à direção da UMAR. Algumas destas companheiras já faleceram e deixam-nos muitas saudades." (idem, p.23)
Importante documento histórico para a participação política das mulheres, esta singela publicação merece destaque nas nossas bibliotecas. Assim se faça sobre outros lugares.
Quem estiver interessada/o no livro, por favor, contacte a autora, através do email: manuelafernandestavares@gmail.com
3.ago.2021
Maria José Magalhães
Notas:
(1) Rodrigues, Maria M.M.S. (2009) Movimentos Sociais e Políticas Sociais: Perspectivas dos Actores do Movimento de Moradores no Porto (1974-76), Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação, Porto, FPCEUP.
Nesta dissertação, por ex., à exceção de uma pequena frase na pág 74 ("Todos/as os entrevistados/as aceitaram colaborar e indicaram outros/as a ser entrvistados/as", todo o texto está escrito no "falso neutro" (Barreno, 1985(2)), sendo que não há nenhuma referência à participação das mulheres.
(2) Barreno, Maria Isabel (1985) O Falso Neutro, Lisboa: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento.
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