CONSTRUIR A MAIORIA SOCIAL DE COMBATE ÀS DESIGUALDADES, AO EMPOBRECIMENTO E À CRISE CLIMÁTICA
= a plataforma
ecossocialista do Bloco de Esquerda =
CONSTRUIR A MAIORIA
SOCIAL DE COMBATE ÀS DESIGUALDADES, AO EMPOBRECIMENTO E À CRISE CLIMÁTICA
1. O capitalismo globalizado está a conduzir o planeta e a humanidade a um desastre ecológico e ambiental de enormes proporções, que soma à crise social e económica. O resultado da recente COP 26 (Glasgow), um fracasso, mostra a incapacidade do capitalismo para enfrentar a emergência climática. Também o agravamento dos ataques ao emprego em toda a Europa, nos EUA e em tantos outros países do mundo, mostram-no claramente. A procura do lucro leva à depredação ambiental e à desumanização infinitas. É cada vez mais necessária uma solução anticapitalista – o Ecossocialismo.
1.1 O ataque aos direitos políticos, liberdades, garantias – sobretudo
laborais –, conquistas sociais e à mais elementar solidariedade humanitária são
consequência da financeirização que coloca recursos públicos ao serviço dos
mercados. A Segurança Social, em parte financiada através dos descontos nos
salários, foi usada para salvar empresas e patrões, erodindo a sua própria
sustentabilidade. A banca está a ser recuperada à custa de fundos públicos, sem
que os seus acionistas sejam chamados a assumir responsabilidades. O
‘capitalismo verde’ prepara-se para que a transição energética seja feita à
custa das populações, dos territórios e do emprego, o que é inaceitável, como
já acontece na Galp/Matosinhos, na EDP/Sines e na Central do Pego/Abrantes.
1.2 A crise pandémica veio acentuar uma crise do sistema capitalista que já
dava sinais de grande instabilidade e degradação. A economia global expôs, ao
mesmo tempo, as suas fragilidades estruturais e novas contradições sistémicas.
1.3 A esquerda tem a responsabilidade inadiável de construir uma maioria
social de combate às desigualdades, ao empobrecimento e à crise climática, de
mobilizar para uma perspetiva política ecossocialista que supere a
exploração capitalista; de contribuir para a unidade das lutas, participar nos
movimentos sociais, nos combates antineoliberais e anticapitalistas,
ambientalistas, feministas, antirracistas, pelos direitos LGBTQIA+ e das
minorias étnicas, por um futuro com dignidade e sem precariedade para os mais
jovens e pela exigência de renovação radical da democracia representativa e de
reforço da participação cidadã.
2
Os governos do PS procuraram encostar a
esquerda à chantagem das eleições antecipadas desde os tempos da “geringonça”.
Tal devia ter sido enfrentado, não permitindo que se arrastasse a narrativa à
volta da criação da ilusão de um governo dito de esquerda, mas que negociava à
direita todas as medidas estruturais. Os sinais já eram evidentes durante o
acordo de incidência parlamentar iniciado em 2015, tendo-se este quadro
agravado após as Legislativas 2019, com o PS a recusar qualquer compromisso com
a esquerda.
2.1 Nas Eleições Legislativas de 2019, o PS capitalizou a mensagem da
estabilidade, das contas certas, do superavit orçamental, do
discurso da responsabilidade e do bom senso, da submissão ‘inteligente’, mas
estrita, aos tratados da UE, enquanto exercia mão dura sobre as lutas laborais,
atacava e ‘militarizava’ o direito à greve, bloqueava a reversão da legislação
antilaboral da Troika e impunha, com a direita, a precarização do trabalho.
2.2 Tudo isto foi acompanhado de grande insegurança no quotidiano de quem
trabalha. Os últimos anos têm sido marcados pela degradação dos direitos
individuais e coletivos, bem como das condições de trabalho. Em quase todos os
setores, tecnológicos, industriais, logística, transportes, comunicações,
produção cultural, saúde e educação, os mais e os menos qualificados, homens e
mulheres, permanentes e precários, nacionais e migrantes, todos têm sido
atingidos/as.
2.3 No OE 2021 o PS prosseguiu essas políticas e, arrogante, continuou
apenas interessado em obter o apoio cego às suas próprias propostas que quis
impor como bandeiras da esquerda. Nem sequer cumpriu várias das medidas prometidas
à esquerda, nem mesmo algumas do seu próprio programa, nem no Orçamento
suplementar, nem no OE 2021. O Bloco votou contra, mas continuou a insistir em
“querer fazer parte desta solução”, adiando assumir-se como uma oposição
influente.
2.4 A linha política do Bloco e o centro das últimas campanhas eleitorais
(Legislativas 2019/Regionais/Presidenciais 2020/Autárquicas 2021) orientaram-se
para que o Bloco se constituísse como o parceiro privilegiado para uma aliança
que sustentasse a governação PS no Governo e nas autarquias, principalmente em
Lisboa, a campanha com maior visibilidade nacional. Os resultados eleitorais
são conhecidos: perdas eleitorais, diminuição da representatividade e menores
condições para a luta política de oposição e de combate à direita e à
extrema-direita que ganhou espaço face à desilusão criada pelas políticas
neoliberais, mas também pelo sistemático apelo da esquerda a compromissos com o
centro e à falta de resposta às pessoas e aos territórios marginalizados.
2.5 Seis anos passados, as medidas antilaborais do Código do Trabalho não
obtiveram qualquer alteração, com consequências nos baixos salários e na
precariedade. Manteve-se o regime de destruição da negociação coletiva, com a
caducidade das convenções coletivas que impede aumentos salariais, e a
inexistência do tratamento mais favorável ao/à trabalhador/a na lei. O
agravamento da precariedade, a facilitação dos despedimentos e uma baixa média
salarial acabam por favorecer a continuação da emigração (nos últimos 10 anos tiveram
de emigrar 355 mil pessoas de forma permanente – não sazonal). O esmagamento do
trabalho pelo capital atinge proporções extremas.
2.6 O capitalismo português continua assente numa lógica de baixos
salários. Cerca de 60% dos/as trabalhadores/as por conta de outrem ganham menos
de 800 euros. Milhares de famílias e de pequenos empresários têm a corda na
garganta, quem é mais jovem confronta-se com níveis elevados de desemprego e
precariedade e não vislumbra futuro. A Função Pública continua, na prática, com
salários congelados desde 2009 e no setor privado o salário médio aproxima-se
do Salário Mínimo Nacional que permanece longe de valores aceitáveis.
2.7 Nem o prometido investimento no SNS – com hospitais em estado
pré-colapso – nem os apoios a trabalhadores/as informais, nem a cuidadores/as
foram executados. Na promoção da habitação pública, o Governo apenas executou
16% da verba orçamentada, já de si exígua para as necessidades. Portugal foi um
dos países da Europa que menos investiu para combater a pandemia, em todas as
áreas de intervenção pública.
2.8 Perante a submissão do Governo ao colete de forças que patronato e UE
impõem, o chumbo do OE 2022 era inevitável. A esquerda não tem outro caminho
que não o de se libertar da chantagem com que António Costa pretendia manietar
a esquerda parlamentar e as organizações dos movimentos sociais, para manter o
regime vindo da Troika que degrada as condições laborais, os salários e as
pensões, os serviços públicos e uma transição energética justa.
3
Votar contra o OE 2022 foi um passo na
direção certa. Porém, será insuficiente caso o essencial da orientação se
mantenha, tanto em relação a uma linha que continue a colocar no centro da
ação do BE o apoio à governação PS, sob a consigna de um “acordo forte”, contra
e sem qualquer suporte nos movimentos e nas lutas sociais.
3.1 O trajeto que tem levado à institucionalização do partido já
demonstrou, ao longo de todo este ciclo eleitoral, que está errado. Tem
resultado em perda de influência política e social, que também está a
desmotivar a militância e a desagregar o Bloco, a par do ‘centralismo
burocrático’ que diminui a participação, a democracia interna e a criação de
uma forte rede de militância de base.
3.2 Em 2019 o PS não quis acordos à esquerda. O secretariado e a direção do
Grupo Parlamentar perceberam tarde que viabilizar orçamentos a troco de
migalhas retirava autonomia ao Bloco, colocava-o numa posição subalterna,
prejudicava as lutas sociais e gerava incapacidade para responder ao povo e a
quem trabalha, assim como para responder de forma robusta à crise social e
ecológica, que são os grandes desafios a enfrentar. Não se assumir como
oposição – uma oposição influente e com propostas – desde a recusa do PS em
assinar um acordo de incidência parlamentar, constituiu um erro que atirou o
Bloco para uma ambiguidade política que debilitou a polarização à esquerda.
3.3 É necessário intensificar a luta pela reversão da legislação laboral,
por aumentos salariais, pelas 35 horas sem perda salarial e por uma transição
energética e digital justa, com garantias de conversão de postos de trabalho e
rendimentos, sem perda de emprego e direitos laborais. Combater o esmagamento
da classe trabalhadora pelo capital, resgatar a radicalidade, com presença nas
ruas, junto do movimento social e não fazer da parlamentarização – que afasta o
partido do pulsar das múltiplas lutas que impulsionam e conferem
sustentabilidade às mudanças necessárias – o centro da ação política.
4
Nas Eleições Legislativas antecipadas, o
Bloco precisa de ser claro e frontal no seu programa e na política de alianças.
Qualquer compromisso futuro exige reversão das medidas antilaborais da
legislação, aumentos dos salários e das pensões dignos e um plano social para a
transição energética – não aceitamos perda de emprego e de direitos em nome de
uma falsa descarbonização. Isto tem de ser afirmado sem hesitações. Trata-se de
linhas vermelhas que conferem identidade, recusam o taticismo, confrontam o PS
e a direita, e fortalecem o Bloco e a esquerda num eventual processo negocial
pós-eleitoral.
4.1 É preciso polarizar à esquerda, porque quem não polariza perde. Sem
tibiezas e com as nossas bandeiras, impedir que a campanha do Bloco se afunde
na discussão sobre a reedição de um qualquer novo tipo de ‘geringonça’ que só
potencia a concentração de votos no PS.
4.2 Um Bloco mobilizado na afirmação do seu programa e claro na definição
das suas linhas vermelhas não significa qualquer atitude isolacionista. O que isola
é o afunilamento do discurso nas alianças com o PS. As prioridades afirmam-se
com determinação e ganham amplitude na defesa da dignidade das condições
laborais, no reforço do investimento nos serviços públicos, em especial no
depauperado SNS, na proposta de um serviço nacional de habitação pública que
garanta o direito à habitação e impeça os despejos de famílias sem alternativa
habitacional, na urgência da Regionalização como instrumento para a
descentralização, aprofundamento da democracia com comunidades empoderadas,
economias locais com circuitos curtos de produção e distribuição, e na
exigência da renegociação da dívida para enfrentar o garrote do sistema
financeiro sobre a capacidade de aplicação dos recursos públicos.
4.3 O PS e a direita apostam no ‘capitalismo verde’ como aparente solução
para a crise climática, criando a ilusão de um mercado ambientalmente um pouco
mais responsável. Sabemos que o capitalismo não tem barreiras para a ânsia do
crescimento infinito, da exploração humana e da natureza. O que se está a
passar com as mega centrais fotovoltaicas e com a aprovação pelo Governo, já
após a convocação de eleições antecipadas, de 14 novas minas, algumas a céu
aberto, demonstra-o. Este projeto do PS, que conta com apoio da direita e dos produtivistas,
é para ser combatido. Defendemos a descarbonização da economia com
recurso a energias renováveis num modelo de produção crescentemente
descentralizado, um plano de encerramento de instalações industriais baseadas
nos combustíveis fósseis e a criação de alternativas e de empregos para o clima
decentes.
4.4 O Bloco tem condições para lutar por um bom resultado eleitoral – mais
votos e mais representação – que contribua para impedir o regresso da direita
ou de um qualquer ‘bloco central’, reforce a alternativa de esquerda e dê
confiança a quem trabalha e aos movimentos sociais nas suas diversas lutas
pelos direitos laborais e pelos salários, pelo ambiente, pela igualdade contra
todas as discriminações, de género, racistas ou neocoloniais. Esse deve ser o
objetivo – construir uma maioria social para os combates que mudem o país.
5
É urgente resgatar o partido movimento,
recuperar a força e o dinamismo da militância, alicerçar a construção coletiva
do Bloco na conceção democrática das decisões tomadas de baixo para cima,
implicando todo o partido, com foco no enraizamento e no fortalecimento das
organizações locais, com capacidade de iniciativa política, reforço do trabalho
autárquico e de profunda ligação com os movimentos.
5.1 O trabalho nos territórios e nos locais de trabalho deve ser assumido
como um desígnio, sem medo da iniciativa, força e diversidade das bases e do
caráter transformador que assumirão com a ampliação do trabalho político de
articulação das questões nacionais ao nível local e do estímulo do pensamento
critico.
5.2 Esta perspetiva, com atribuição adequada de meios e de recursos,
aumenta a influência do partido e contribui para a sua revitalização, através
da aproximação, ou integração, dos/as aderentes nas lutas e nos movimentos sociais,
culturais, laborais, antirracistas, feministas, pela igualdade e ambientais e a
necessária criação de núcleos, nas freguesias, nas empresas, no bairro ou onde
houver aderentes.
5.3 Com a recusa do modelo de lista aberta com voto preferencial para as candidaturas
às legislativas, perdeu-se a oportunidade de criar um processo democrático,
participativo e mobilizador na escolha das listas, capaz de unir o Bloco na sua
diversidade. Ao manter as listas fechadas, optou-se pela restrição de uma ampla
participação e da cooperação entre sensibilidades, numa visão centralista e
fechada da organização, uma espécie de apartheid partidário.
5.4 Um Bloco vivo é o que se reforça na base, que olha para a iniciativa
política nos territórios, nos locais de trabalho e nos espaços de animação e
produção cultural e associativa como fator de enraizamento e alargamento, e que
encara a pluralidade e a democracia interna de forma positiva e diferenciadora.
Estes são fatores decisivos para muscular os grandes combates que temos pela
frente. É urgente esta mudança para inverter o ciclo de perdas eleitorais e
combater a chantagem, determinadas por perceções eleitoralistas. É no
combate pelo programa e na procura pelo mandato popular que o BE se afirmará à
esquerda como alternativa.
Entroncamento, 04 dezembro 2021
[Resolução aprovada no 3º Encontro Nacional Convergência – a plataforma
ecossocialista do Bloco de Esquerda]
CONVERGÊNCIA6 DE DEZEMBRO DE 2021
ESPALHEM A NOTÍCIA...
Comentários
Enviar um comentário