“Decisão inédita” de Alto Comissariado da ONU pede intervenção do Estado português em caso de família em iminência de despejo


 


“Decisão inédita” de Alto Comissariado da ONU pede intervenção do Estado português em caso de família em iminência de despejo

14/11/2021 POR VIA ESQUERDA

 

 

O jornal Expresso on line revelou que o Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU confrontou o Estado português com a necessidade de garantir o direito à habitação no caso de uma família de Queluz que está na iminência de ser despejada.

Segundo o Expresso, o Gabinete do Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas analisou o caso  e concluiu haver fundamento suficiente para solicitar a intervenção do Estado. “É um enorme progresso no direito à habitação e pode ser um fator de jurisprudência interessante”, defende especialista ouvido pelo Expresso.

Numa “decisão inédita”, o Gabinete do Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas (ACDH) decidiu em seu favor e pediu ao Estado português que adote medidas cautelares enquanto o processo está a ser analisado.

Em causa está o caso de uma mulher de 78 anos e do filho de 44 anos, de quem é cuidadora. Ambos pensionistas, estão em risco de ficar sem casa depois de o senhorio ter recusado renovar a renda da habitação onde vivem há mais de quatro décadas. A situação arrasta-se desde 2019, estando o despejo atualmente suspenso ao abrigo do “regime processual excecional e transitório” aprovado em 2020 para fazer frente à pandemia.

Antes de ser conhecida a decisão da ACDH, o filho mais velho falou com o Expresso sobre a situação da família. “Recorri a tudo e mais alguma coisa. [Todos] dizem que realmente ela [mãe] está em condições de usufruir das casas de renda social, mas não dão resposta”, afirmou.

A família espera desde 2015 por um alojamento concedido pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU). A Câmara de Sintra reconheceu, igualmente, que estão reunidas as condições para o acesso ao arrendamento social, mas justifica o atraso com a falta de casas.

“É UMA LUFADA DE AR FRESCO. É O RESPIRAR”

No passado dia 25, a família avançou com uma comunicação contra o Estado português junto do Comité dos Direitos Económicos Sociais e Culturais da Organização das Nações Unidas.

No dia 28, o ACDH considerou haver fundamento suficiente no processo enviado para solicitar ao Estado português que “tome medidas para evitar possíveis danos irreparáveis enquanto o caso estiver a ser examinado pelo Comité”, informa a associação Habita, que tem estado a acompanhar o caso, numa nota enviada ao Expresso. Estas medidas cautelares “consistem na suspensão do despejo da casa em que os autores se encontram atualmente, ou alternativamente, para fornecer-lhes um alojamento alternativo apropriado às suas necessidades”.

“É uma lufada de ar fresco. É o respirar”, reagiu o filho mais velho. “Isto é um stress e uma injustiça tão grande. A qualquer momento esperamos que alguém bata à porta e que aconteça alguma coisa. Não há espaço para compreender este tipo de acontecimentos no nosso país. Temos tantos deveres e temos de cumpri-los, porque é que temos de lutar tanto pelos nossos direitos? Temos de apresentar provas e mais provas. As pessoas acabam por não conseguir esta luta e desistir.”

Já Rita Silva, da Habita, destaca a rapidez da “decisão inédita”, mas sublinha que situações como a desta família são “bastante comuns”. “É a primeira vez que a sociedade civil apela a esta entidade e que tivemos sucesso com um caso de despejo”, afirma a ativista.

Para a Habita, a decisão reforça, assim, “que não pode haver despejos se não há alternativa de habitação adequada, uma vez que isso tem graves implicações que lesam direitos humanos fundamentais e a integridade física e mental das vítimas da crise de habitação.”

“NÃO DIRIA QUE É UMA MUDANÇA DE PARADIGMA, MAS SIM UMA TOMADA DE DECISÃO POUCO COMUM”

Na comunicação entregue ao Comité dos Direitos Económicos Sociais e Culturais da Organização das Nações Unidas, os queixosos argumentam estar perante uma violação do Artigo 11º do Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais – um tratado multilateral do qual Portugal é subscritor e no qual se compromete a defender, entre outros, o direito à habitação.

CATEGORIASATUALIDADE


Comentários

Mensagens populares deste blogue

O valor do trabalho doméstico e do cuidado

Ministério Público manda arquivar inquérito – ex-deputado Pedro Soares não cometeu qualquer ilegalidade na indicação da morada

CASA DO CORIM, PATRIMÓNIO DOS MAIATOS! UMA OPINIÃO