Reconquista de Cabul pelos Talibãs: derrota histórica e colapso da política dos EUA

COMUNICADO CONVERGÊNCIA: 
Reconquista de Cabul pelos Talibãs: derrota histórica e colapso da política dos EUA 

As milícias Talibãs ocuparam Cabul, capital do Afeganistão, ao fim de uma progressão militar praticamente sem resistência, nos últimos dois meses, pelo território e principais cidades afegãs. 

A situação no aeroporto de Cabul recorda a vergonhosa e caótica fuga dos EUA de Saigão, em 1975. Funcionários, militares e milhares de afegãos comprometidos com o regime tentam desesperadamente alcançar um voo para abandonarem o país. 

Os Talibãs ocuparam o palácio presidencial e aguardam uma “transição pacífica do poder”. Um eufemismo para anunciar que já ocuparam o poder, esperam legitimação internacional e a saída do que resta das tropas e pessoal diplomático da coligação liderada pelos EUA. 

O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Santos Silva, declarou que o resultado da operação que levou a NATO e a União Europeia a invadirem e a permanecerem no Afeganistão durante cerca de duas décadas deve ser objeto de “um debate político”. 

No mesmo sentido, o comunicado do Secretariado Nacional do BE defende que “quem na altura apoiou esta invasão deve agora fazer o seu balanço” e considera que o regresso dos Talibãs “demonstra a enorme irresponsabilidade que foi a invasão e ocupação do Afeganistão pela NATO ao longo dos últimos vinte anos.” 

Irresponsabilidade é o que censuramos quando alguém age sem pensar nas consequências dos seus atos. A invasão do Afeganistão não foi uma irresponsabilidade. Não há razão para pensar que a NATO não tenha agido segundo os melhores interesses de Wall Street, que serve. Do que não restam dúvidas é de que se tratou de um crime, de uma violação brutal dos direitos dos povos e do próprio direito internacional e de que Portugal dela foi cúmplice, como foi do crime de guerra da invasão do Iraque. 

A invasão do Afeganistão estava planeada desde abril de 2001. O ataque às Torres Gémeas foi o pretexto, o novo Pearl Harbour de que, meses antes, Donald Rumsfeld disse necessitar. 

A ocupação do Afeganistão nada teve a ver com democracia. O objectivo, para os EUA, era reafirmar a sua hegemonia no Médio Oriente e na Ásia, marcar o seu domínio estratégico contra a China e o Irão e afastar definitivamente a Rússia. 

O Bloco deve opor-se com veemência à aceitação compungida, à cumplicidade hipócrita, à doce conciliação que a propaganda oficial já está a difundir para justificar e encobrir os crimes brutais do imperialismo. Os EUA criaram, armaram e alimentaram os talibãs para destruir um regime laico. Quando os talibãs deixaram de lhes servir, bombardearam, invadiram, destruíram, dizimaram, mataram, torturaram, prolongaram a miséria e o sofrimento de milhões de pessoas. Agora, arrastados na crise económica e militar que, como no Vietname, eles próprios criaram, retiram como se não fosse nada com eles. Porém, derrotados. 

O balanço destes 20 anos de ocupação dos EUA é o caos e a manutenção de condições económicas de subdesenvolvimento de um povo que se confrontou com falsas promessas, a continuação do terror e, agora, de novo, com o fanatismo religioso, a continuação das violações dos Direitos Humanos, dos direitos elementares das mulheres, das minorias étnicas e da comunidade LGBT. 

A participação portuguesa nas tropas de ocupação do Afeganistão ao serviço da NATO e chefiadas pelos EUA, com as respetivas dotações orçamentais que, tristemente, o Bloco também votou, implica Portugal nas responsabilidades pela morte de milhares de civis. Também dois soldados portugueses morreram. 

Este é o balanço. Exigem-se posições claras e ações concretas. 

CONVERGÊNCIA17 DE AGOSTO DE 2021 ESPALHEM A NOTÍCIA...

Comentários

  1. Considerar que as investidas da guerra imperialista é uma questão de "irresponsabilidade" é, no mínimo, relaxado, frouxo, brando, debilitado, flácido! Maria José Magalhães

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

CASA DO CORIM, PATRIMÓNIO DOS MAIATOS! UMA OPINIÃO

Como Garantir o Direito à Habitação na Cidade Mercadoria?

COMO RESGATAR OS REGULADORES E A AVALIAÇAO AMBIENTAL DO PANTANO?