Intervenção de Manuel Carlos Silva na 4ª Conferência Nacional do Bloco
As intervenções na IV Conferência Nacional que forem enviadas para convergencia.bloco@gmail.com com o respetivo texto ou síntese, serão colocadas online e ficarão acessíveis aos/às militantes do Bloco. Todas serão publicadas, independentemente de qual ou quais as propostas em debate a que manifestarem apoio ou posição crítica. A plataforma Convergência – Espaço Ecossocialista está ao serviço do debate democrático e do diálogo no BE.
Transcrevemos de seguida a intervenção de Manuel Carlos Silva.
Intervenção de Manuel Carlos Silva na 4º Conferência Nacional do Bloco
Relativamente ao necessário balanço crítico e autocrítico das sucessivas
derrotas, particularmente sobre a profunda derrota nas últimas eleições
legislativas (com a perda de 14 deputados) é surpreendente registar – e faço-o
como independente e simpatizante do Bloco até 2016 e militante desde então – os
ziguezagues do Bloco sobre os métodos de combate político (lutas de base antes
de 2015, depois desde 2016 foco na disputa institucional-parlamentar e
mediática e secundarização dessas lutas de base e, agora de novo, após a
derrota em 2022, o apelo anticapitalista e de volta às bases), quer sobretudo em
relação ao PS: nas vésperas das eleições de 2015, parte considerável da direção
do Bloco dizia “com o PS nunca”, quanto se tornava urgente um acordo com o PS
para derrubar a direita, o que felizmente teve lugar por vozes internas e
externas ao Partido; após 2017 e sobretudo de 2019 a 2021, em que se impunha
ser mais afirmativo e crítico face à política do PS, parece que a palavra de
ordem era: “com o PS quase sempre”, o que viria a tornar-se até patético,
depois do chumbo do Orçamento, propor-se de novo ser parceiro do PS,
eventualmente integrando o próprio Governo, à boa maneira do Podemos em
Espanha.
Este pressuposto mal calculado de que, mesmo perdendo alguns deputados, o
PS necessitaria do Bloco para governar, não se confirmou, sendo evidente que o
PS ‘estava noutra’, como vulgarmente se diz, exigindo-se mais do que nunca uma
cerrada crítica e um envolvimento em lutas sociais de base. E certamente, parte
do eleitorado, incluindo o do próprio Bloco, não entendeu os sucessivos
ziguezagues do Bloco entre uma retórica alegadamente radical e uma linha
política (quase)social-democrata e preferiu, em sobressalto, barrar o caminho à
direita, resultando numa maioria absoluta do PS, mas com a preocupante
agravante da ascensão da Iniciativa (ultra)Liberal e
sobretudo do xenófobo e racista Chega da extrema-direita.
Talvez, para além de uma nova auscultação de figuras independentes e
simpatizantes do Bloco, tal como foi feito na véspera das eleições de 2015, e
sobretudo das organizações concelhias, dos militantes de base e do pulsar das
populações, melhor avaliação poderia ser feita e talvez não tivéssemos sofrido
esta profunda derrota.
E sobre a situação a que chegamos não se diga que não há lugar, senão a
‘arrependimentos’ pela sua conotação moralista, a balanços políticos críticos e
autocríticos. O necessário reerguer-se do Bloco só pode ter lugar pelo
reconhecimento real das várias tendências e sensibilidades, num diálogo franco
e no funcionamento da democracia interna, sem ostracizar camaradas críticos
desta situação que se vem arrastando. Sem ocultar ou negar a realidade, importa
reconhecer a orientação demasiado institucionalizada do passado recente em
prejuízo do trabalho de base nas autarquias, no movimento sindical e noutros
movimentos sociais. Por outro lado, tomando consciência da realidade de um país
com desempregados/as, precários/as e 20% de pessoas pobres mas despolitizadas e
desesperadas e que, na incerteza e insegurança, reclamam a segurança mínima e
são permeáveis a slogans racistas contra negros, ciganos e
imigrantes/refugiados, assumindo-os como bodes expiatórios da sua situação de
pobreza – como comprovei em estudo que coordenei –, importaria fazer um
trabalho de desmontagem da demagogia dos partidos de (extrema)direita e
sobretudo acumular força nos diversos setores de lutas. Para isso, impõe-se
ouvir, construir a unidade na pluralidade, recomeçar de novo e traçar um novo
rumo, o que só poderá ter lugar pela convocação de uma Convenção Nacional o
mais breve possível.
CONVERGÊNCIA10 DE MAIO DE 2022
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