UNIR O BLOCO PARA MUDAR DE RUMO E RECOMEÇAR DE NOVO
[Proposta alternativa para a IV Conferência Nacional do BE apresentada na reunião da Comissão Política de dia 5/abril]
O quadro político nacional e internacional mudou drasticamente
§
Nada ficará como antes depois da brutal invasão da
Ucrânia pela Federação Russa. Após a crise financeira de 2008 e da
crise que dura há mais de dois anos provocada pela pandemia da Covid-19, com
graves consequências sociais, económicas e sanitárias, o mundo virou todas as
atenções para a guerra desencadeada em território europeu pelo confronto entre
blocos agressivos, o russo e o imperialista norte-americano, secundado pela
União Europeia (UE) e pela NATO, ameaçador da segurança de nações e povos. Na
Ucrânia foram envolvidos meios humanos e militares nunca vistos desde a Segunda
Guerra Mundial, milhares de mortos russos e ucranianos, uma nova vaga de
milhões de refugiados, uma intolerável ameaça de desastres nucleares, uma previsível
crise económica que voltará a massacrar socialmente os mais explorados, com
unidades industriais, como refinarias, a serem atacadas (na Donbass e noutras
regiões ucranianas) com tremendos impactes na poluição das
águas superficiais e subterrâneas, com incêndios que libertam massivamente
substâncias altamente poluentes e devastam enormes áreas florestadas e
protegidas. A nossa solidariedade com o povo ucraniano, martirizado por esta
guerra iníqua entre potências, é inequívoca. A guerra quase faz esquecer
a emergência climática que não desapareceu, antes se vai tornando irreversível,
está a destruir sistemas ecológicos e já se tornou o pano de fundo do nocivo
produtivismo e da crise do capitalismo. Os fatores de instabilidade da
globalização capitalista neoliberal agravaram-se e demonstram conduzir ao
abismo.
§
A situação política mundial mudou. Na Europa foi
prometido um futuro de paz, mas a ilusão caiu por terra com o fragor próprio de
uma nova guerra. O mito da globalização, apresentado como uma interdependência
com vantagens comparativas equilibradas, ruiu com a evidência das disputas
entre blocos políticos, económicos e militares em plena afirmação, recorrendo a
meios violentos de grande escala por zonas de influência e controlo. A
guerra na Europa, tendo como palco o inadmissível ataque militar à Ucrânia, não
é apenas um limitado conflito regional. Expressa o declínio da economia e do
mundo unipolar dominado pelos EUA/NATO, que submeteu a Europa e militarizou os
limites da fronteira com a Federação Russa, e da ascensão de potências
hegemónicas a nível global em que, nesta fase, sobressaem os Estados da Rússia
e da China. Em vez do estímulo a uma política de defesa da paz e do direito
internacional, de respeito pelos direitos humanos e de promoção de todas as
formas de cooperação, de conjugação de objetivos para enfrentar a crise
climática, o desemprego e a degradação das condições de vida das populações, o
palco da guerra na Europa promove e incentiva uma nova corrida armamentista e
uma política agressiva entre blocos, em choque com a aspiração dos povos à paz
e à segurança.
§
A lógica armamentista voltou a ganhar força na Europa. Esta lógica já é
apresentada, sem pudor, pela corrente atlantista dominante na UE como um
desígnio estratégico prioritário. É a lei do mais forte, da militarização do
confronto entre blocos, da submissão aos interesses dos EUA e da respetiva
concepção da defesa europeia no quadro da NATO, com a imposição do aumento das
despesas militares sobre quaisquer outras despesas públicas. Esta lógica não
evitou a guerra, precipitou-a. A nível nacional, para além da disponibilização
de meios para a região enquadrados na NATO e do envio direto de armas para a
Ucrânia, o ministro da Defesa aproveitou a boleia da guerra para reafirmar o consenso
entre os governos do PS e do PSD, que transformou as Forças Armadas numa
espécie de corpo expedicionário ao serviço das estratégias imperiais da NATO e
dos EUA, com o aumento do financiamento militar já no próximo Orçamento de
Estado, que se fará inevitavelmente à custa do investimento no SNS, na
habitação, na cultura ou nos direitos e rendimentos dos trabalhadores. A onda
militarista, a pressão conservadora que agrava as desigualdades e a austeridade
sobre os trabalhadores aproveitam a insegurança provocada nas populações pela
guerra para fazerem caminho.
§
O espetro da austeridade adensa-se com o aumento
generalizado dos preços provocado pela escassez de produtos, nomeadamente
alimentares, a crise energética e a especulação. Cerca de uma semana
após o início da guerra, os produtos petrolíferos já atingiam valores
históricos máximos e o preço da eletricidade no Mibel batia um novo recorde em
Portugal e Espanha. A erosão sobre os salários decorre do crescimento da
inflação e da pressão da legislação laboral que favorece a precariedade,
sobretudo dos mais jovens, condiciona a contratação coletiva e a atualização
dos rendimentos do trabalho. As políticas públicas em Portugal não
acompanharam, em muitos casos até agravaram, as dificuldades levantadas pela crise
da pandemia que subsiste e a pobreza voltou a aumentar. Mais 400 mil pessoas
caíram abaixo do limiar da pobreza (60% do rendimento mediano), com
aprofundamento do fosso entre ricos e pobres. As consequências económicas da
guerra sobrepõem-se às da pandemia e provocam o agravamento da situação. O
patronato português já anunciou o despedimento de um milhão e cem mil
trabalhadores nos próximos anos. A incógnita sobre o comportamento do BCE torna
o quadro do financiamento dos Estados potencialmente explosivo. A necessidade
de uma forte intervenção pública para combater o empobrecimento não é
compatível com a política que o governo PS, agora com maioria absoluta, adotou
para garantir o défice sujeito ao anunciado regresso aos limites do PEC e à
ortodoxia do serviço da dívida. Os setores mais vulneráveis da sociedade, os
trabalhadores, a juventude presa na teia da precariedade e dos baixos salários,
mulheres, minorias étnicas e imigrantes vão ser duramente atingidos pelo
crescimento das desigualdades e do empobrecimento, numa economia fortemente
dependente dos combustíveis fósseis. A necessidade de medidas de combate à
especulação nos preços da energia e de bens essenciais coloca-se com urgência.
§
Um novo quadro político internacional e nacional exige
novas soluções. O Bloco tem de desempenhar um papel central na mobilização popular para a
resistência à austeridade e aos retrocessos sociais e ambientais. Responsáveis
governamentais da UE já dão como certa a travagem nas medidas de transição
energética, para proteger os lucros das empresas que utilizam combustíveis
fósseis. O lóbi da energia nuclear também se agita, quer aproveitar a
irresponsável Taxonomia Verde aprovada pela Comissão Europeia, e colocar-se
como alternativa energética. A situação mudou, há um novo quadro político
internacional e nacional, e a resposta do Bloco tem de considerar a nova
situação, incorporar as lições da falta de ligação aos movimentos e às lutas
sociais, de uma linha baseada na procura de acordos com o PS que conduziu a
sucessivas derrotas eleitorais. É preciso urgentemente envolver todo o
partido no debate sobre as respostas imediatas, não só nas instituições, mas
sobretudo na defesa dos serviços públicos, nas lutas para alterar a legislação
laboral e enfrentar os ataques aos direitos e aos rendimentos dos trabalhadores
nos diversos setores, no público e no privado, na exigência de medidas urgentes
de adaptação às alterações climáticas e de descarbonização da economia
garantindo postos de trabalho, de defesa da descentralização participada e de
combate às assimetrias territoriais. Compete à Convenção Nacional definir um
novo rumo num quadro de mudanças profundas catalisadas pela guerra na Europa.
O traço comum num ciclo de perda de influência política
§
As recentes eleições Legislativas de 30 de janeiro
constituíram o culminar de um ciclo de eleições iniciado em 2019 em que o Bloco
colocou como objetivo central, invariavelmente, constituir-se como parceiro
privilegiado para uma maioria parlamentar de suporte à governação PS ou até
parceiro de um governo enquadrado pelos tratados da UE. Os resultados são
conhecidos: perdas eleitorais sucessivas, diminuição da representatividade e
menores condições para a luta política de oposição, de apoio aos movimentos e
de combate à direita e à extrema-direita. Esta sucessão de derrotas torna
evidente que não podem ser assacadas responsabilidades apenas e de forma
superficial a cada uma das conjunturas. Há um traço comum: a linha política de
permanente apelo a uma aliança com o PS com diluição das bandeiras que foram
essenciais na afirmação do Bloco.
§
O Bloco, que até à legislatura 2015-2019 procurou
ligar-se a algumas das grandes lutas sociais e marcar com propostas que o
identificavam, tornou-se cada vez mais orientado para a ação parlamentar e para
intermináveis negociações de suporte a um governo que oscilava entre a direita
e o chamado centro-esquerda. Para muitos eleitores havia a perceção de o Bloco
fazer parte de uma coligação de governo, afastando-se das lutas dos
trabalhadores e dos movimentos sociais. Deixava de “correr por fora” e
concentrava-se política e organizativamente, com a desvalorização das
organizações locais bloquistas, degradação da democracia interna, da
participação e da pluralidade, em “correr por dentro”, concretizando a linha de
que as mudanças só são alcançáveis nas instituições e na estrita submissão às
suas regras. A ideia de que assim deslocaria o PS para a esquerda e alcançaria
melhorias para a população criou uma espécie de cultura “geringoncista” que
diluiu a radicalidade identitária que fez crescer o Bloco, retirando
acutilância às bandeiras políticas do Bloco e impedindo-o de polarizar à
esquerda.
§
Votar contra o OE 2022 foi um passo insuficiente, uma
vez que toda a linha política era incoerente e ziguezagueante face à insistência
no essencial da orientação que punha no centro da ação do BE um acordo para
apoio à governação PS. Chegou a ser pedido ao PS, em plena batalha eleitoral,
um “acordo forte” e um “acordo de legislatura a ser assinado dia 31 de janeiro”
– sem qualquer suporte em linhas vermelhas bem definidas, sem apoios nos
movimentos e nas lutas sociais. Neste quadro e após a clarificação de
António Costa de que não queria fazer um acordo à esquerda, muitos eleitores de
esquerda rejeitaram aquela linha contraditória. Equacionaram que se tudo
se resumia a apoiar um governo de centro-esquerda, e perante a ameaça da
extrema-direita, a opção mais lógica e que entenderam mais segura foi votar no
que consideraram ser o centro-esquerda de facto. A insegurança nas vidas de largos
sectores da população, o aumento da pobreza e das dificuldades de acesso a
serviços públicos, agravaram este quadro que não teve resposta consistente à
esquerda. A manobra defendida pelo secretariado nacional de que o Bloco
teria de continuar a defender a “geringonça”, não se afirmar como oposição e
fazer parte da viabilização do primeiro OE, pelo menos, para ganhar os
eleitores do BE e só depois poder eventualmente confrontar o PS, demonstrou-se
uma infantilidade tática e um erro de consequências graves.
§
Para as Legislativas antecipadas, o Bloco precisava de
se ter preparado e ter sido, há muito, claro e frontal no seu projeto de
sociedade, programa e política de alianças, com uma linha coerente com o chumbo
dos OE’s, em vez de se ter deixado diluir num “geringoncismo” serôdio.
Compromisso futuro exigiria definição e clarificação de linhas vermelhas:
reversão das medidas anti laborais da legislação, aumentos dos salários e das
pensões dignos, serviços públicos valorizados e um plano social para a transição
energética – não aceitar perda de emprego e de direitos em nome de uma falsa
descarbonização. Seriam as linhas vermelhas que confeririam identidade,
recusavam o tacticismo, confrontavam o PS e a direita, e fortaleceriam o Bloco
e a esquerda na resistência às pressões bipolarizadoras.
§
A capacidade explicativa para a derrota eleitoral
baseada no voto contra o OE é, só por si, muito limitada. Repare-se que o PAN,
que não votou contra o OE, não conseguiu evitar com isso perder metade dos
eleitores e acabar reduzido a uma deputada. Se o essencial dependesse de um
apoio à proposta de OE, o PAN teria tido um bom resultado eleitoral. O problema
não foi rejeitar um OE, mas enfatizar como grande objetivo eleitoral conseguir
um acordo com o mesmo partido que apresentou a proposta de OE que o Bloco tinha
acabado de recusar. Os sinais foram contraditórios e a campanha não conseguiu
responder à perplexidade e incompreensão criadas em amplos setores da
população.
§
A bipolarização (artificializada) pressionou o voto
útil, à esquerda e à direita, mas só teve efeitos críticos à esquerda. Não era inevitável
que esse fenómeno tivesse de atingir tão duramente a esquerda, como não atingiu
a direita. Nas legislativas de 2002 (Ferro Rodrigues vs. Durão Barroso) e de
2015 (Passos Coelho vs. António Costa), em que o chamado voto útil exerceu
forte pressão sobre os eleitores à esquerda e à direita, o Bloco resistiu e
cresceu. Em 2015 obteve o melhor resultado de sempre. Agora, em 2022, não teve
essa capacidade de resistir à bipolarização e perdeu 14 dos 19 deputados que
tinha. A campanha do Bloco voltou a afundar-se na discussão sobre a reedição de
um qualquer novo tipo de “geringonça” que tem vindo a potenciar a concentração
de votos no PS, como os estudos de opinião já indicavam antes das sondagens que
davam “empate técnico” entre PS e PSD.
§
Todos os objetivos eleitorais apontados pelo Bloco não
foram alcançados: manter-se como 3º partido, impedir uma maioria absoluta do
PS, derrotar a extrema-direita e conseguir sentar António Costa à mesa das
negociações para um acordo de legislatura. A derrota eleitoral
expôs a falência de uma linha política que propiciou a via de António Costa
para capitalizar os louros da “geringonça”, alimentar a chantagem para secar a
esquerda e conquistar a maioria absoluta que perseguia desde 2018. A
derrota eleitoral à esquerda é o corolário de uma sucessão de perdas eleitorais
ao longo do ciclo político iniciado em 2019. A explicação não pode ser
encontrada apenas em fatores conjunturais e nas circunstâncias que envolveram
cada ato eleitoral. Tal não seria um balanço sério. Também não se resolve com a
demissão deste ou daquela dirigente. O problema é mais profundo e prende-se com
a própria linha política que determinou a forma de comunicação e com a
centralidade dada à ansiedade de concretizar um acordo com o PS para os
próximos quatro anos. Estes fatores trouxeram a esquerda até esta nova derrota
e não podem deixar de ser avaliados com profundidade, humildade e coragem, para
uma necessária e inadiável mudança de rumo. Compete à Convenção Nacional
fazê-lo, constituindo uma grave entorse à democracia interna poder considerar
que uma Convenção é substituível por uma Conferência sem representação
democrática e proporcional das propostas e sem capacidade deliberativa.
§
Não retirar consequências dos resultados eleitorais
obtidos configura uma atitude de arrogância política inadmissível num partido
de esquerda que pretende responder à vontade popular. É essencial retirar
conclusões do ciclo de derrotas, ter uma atitude autocrítica que será
popularmente valorizada e começar a construir um caminho de polarização à
esquerda, porque quem não polariza perde sucessivamente. Um Bloco mobilizado na
afirmação do seu programa e claro na definição das suas linhas vermelhas não
significa qualquer atitude isolacionista. O que isolou e fragilizou a
resistência à bipolarização foi o afunilamento do discurso nas alianças com o
PS. Tudo isto foi sendo paulatinamente desvalorizado nos últimos anos,
aproximadamente desde meados da legislatura 2015-2019 quando o Bloco optou por
não confrontar o PS com o desafio de um caderno de encargos com novos objetivos
até ao final da legislatura, quando começava a ser evidente que António Costa
já preparava o golpe contra a esquerda. Em vez disso, a opção de então foi ir
às Legislativas de 2019 com um programa único: uma nova aliança com o PS. Em
2022 repetiu-se. Os resultados desta linha são conhecidos.
§
As prioridades afirmam-se com determinação e não se
submetem nem podem depender de acordos de governação. Ganham
amplitude na defesa da dignidade das condições laborais e na exigência de
revogação da legislação que as diminui, no reforço do investimento nos serviços
públicos, em especial no depauperado SNS, na proposta de um serviço nacional de
habitação pública que garanta transversalmente o direito à habitação e impeça
os despejos de famílias sem alternativa habitacional, nas respostas à
emergência climática sem deixar os trabalhadores para trás, na urgência da
Regionalização como instrumento para a descentralização, aprofundamento da
democracia com comunidades empoderadas, economias locais com circuitos curtos
de produção e distribuição. A crítica à UE neoliberal não pode ficar subsumida
nos apelos para alianças de maioria, desde logo a exigência da libertação do
garrote da dívida e do sistema financeiro sobre a capacidade de aplicação dos
recursos públicos.
§
Na previsão de quatros anos de maioria absoluta do PS,
o Bloco deve assumir-se como oposição parlamentar influente, mobilizadora e não
apenas fiscalizadora, tendo como objetivo principal deslocar a sua ação política para fora,
exprimir anseios e reivindicações dos movimentos sociais, organizar a intervenção
no movimento laboral, lutar por uma transição energética que diminua a emissão
de GEE, promova a democratização da produção e o autoabastecimento de energia,
a formação de comunidades energéticas locais, privilegie e apoie as agendas e
iniciativas de base e locais.
§
O objetivo da construção de uma sociedade socialista e
ecologicamente justa – ecossocialista – tem de ser desenvolvido e estar
presente na comunicação do Bloco. Ficar pela lista de reivindicações
imediatas é redutor e insuficiente. O Bloco deve apresentar-se como
elemento-chave para uma alternativa à esquerda, enquadrada por um projeto de
sociedade de superação do capitalismo, contra a exploração e todas as formas de
desigualdade e discriminação, antirracista e anti neocolonial, pela igualdade e
pela eliminação da violência doméstica e de género, defensora dos direitos
LGBTQI+, que mobilize jovens, trabalhadores/as e todos os setores mais
avançados nas lutas pela justiça social e ambiental.
Resgatar a pluralidade, a descentralização e a democracia interna para a
mobilização participativa
§
O secretariado nacional optou pela realização de uma
Conferência Nacional para discutir o “Rumo Estratégico do Bloco de Esquerda”, o
que denota que tem consciência de que os aderentes e militantes sentem a necessidade
de alterar o rumo estratégico do partido para o que será necessário,
obviamente, fazer previamente o balanço político do anterior “rumo
estratégico”, ao contrário do que tem sido defendido pelo secretariado
nacional, agarrando-se à justificação da brutal derrota eleitoral, antecedida
das perdas eleitorais nas legislativas 2019, nas presidenciais e autárquicas de
2019, por razões circunstanciais.
§
A orientação política que conduziu o partido aos
resultados de 30 de janeiro, reforçada pelas alterações no quadro político
internacional e nacional e o agravamento da situação social, económica e
ambiental, é razão para a necessidade de discutir o rumo estratégico do Bloco
de Esquerda. Sem desvalorizar qualquer outra forma de debate prevista nos
Estatutos, o “Rumo Estratégico do Bloco de Esquerda” só poderá ser definido no
âmbito de uma Convenção Nacional, na base de um processo de discussão
organizado em todo o partido e de eleição democrática proporcional de delegados
entre todas as moções que se apresentem para proporem a “Definição do Rumo
Estratégico”. Quem alega que a Convenção vira o partido para dentro, está em
contradição com a evidência do que se tem passado em convenções anteriores,
onde sempre existe uma ampla comunicação das renovadas propostas do Bloco ao
país e o seu reforço político junto da opinião pública. Torna-se insensato e
temeroso considerar negativa a realização da maior reunião pública do Bloco, o
órgão máximo da democracia bloquista.
§
A Conferência Nacional, por evidente incompatibilidade
estatutária e democrática, não pode definir o novo rumo estratégico do Bloco, mas deverá, a partir
de um balanço político sério e de fundo, ser a rampa de lançamento da exigência
fundamentada de que a necessária definição de um novo rumo venha a ser feita em
instância própria, ou seja, a Convenção Nacional. Esse novo rumo deve incluir o
resgate da pluralidade, da promoção da cooperação entre sensibilidades, da
descentralização e do inteiro respeito pelos órgãos estatutários, dos núcleos à
comissão política, do trabalho de enraizamento na base e da democracia que
torne a vida interna do Bloco mobilizadora e inspiradora, expurgada de intriga,
ataques pessoais e exclusões. A usurpação das funções da comissão política pelo
secretariado nacional – que não é um órgão estatutário e por isso não se obriga
a ser representativo da pluralidade da Comissão Política e da Mesa Nacional – é
um grave sintoma da democracia limitada que se verifica no Bloco.
§
O Bloco corre o risco de ver todo o seu
importantíssimo património político, cultural e moral ser alienado com a continuidade da
política de aproximação ao PS numa estratégia de participação, agora a mais
longo prazo do que em 2015, num governo neoliberal de fachada social
democrata, sujeito aos tratados da UE, em vez de reforçar a capacidade do Bloco
para contribuir para o desenvolvimento do movimento social e da luta dos
trabalhadores com a finalidade de promover uma profunda alteração do quadro
político e a afirmação dum projeto popular ecossocialista. Os tempos que se
seguem vão ser de luta não só contra a maioria PS e a guerra imperialista, mas, e
por isso mesmo, pela recondução do Bloco à sua matriz fundadora.
[Proposta apresentada por Ana Sofia Ligeiro | Mário Tomé | Bruno Candeias]
CONVERGÊNCIA8 DE ABRIL DE 2022
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