Proteger o Bloco, aprofundar a autocrítica e mudar de rumo com a participação de todos/as
A derrota eleitoral, na sequência de outras desde 2019, coloca-nos uma
exigência em primeiro lugar: defender e proteger o partido. Para isso é preciso
fazer o debate todo, com humildade e coragem aprofundar a autocrítica e mudar
de rumo para que o povo de esquerda veja que percebemos o descontentamento que
nos transmitiu. Não desistimos de resgatar o Bloco para o seu verdadeiro papel
na esquerda e na sociedade portuguesa: ser uma alternativa, conquistar com os
movimentos sociais uma maioria social para uma verdadeira mudança no país.
O Bloco de Esquerda, partido em que milito há 8 anos, tem de ser muito mais
do que o produto de grupos de interesses internos, liderado por duas tendências
que antes eram rivais e que nas últimas duas legislaturas se juntaram, negociaram
e decidiram a estratégia do partido, com as consequências conhecidas.
Seria grave que um partido de esquerda como o BE, que reclama por uma
democracia de alta intensidade, não fosse capaz de acabar no seu próprio seio
com o centralismo, o autoritarismo e o desprezo por quem fala diferente,
deixando sempre à margem aqueles/as que não fazem parte dessa equação.
Vamos a factos para não falar de teorias, pois estes não enganam:
O que estavam à espera do povo se, quando em 2019, António Costa deu sinais
na noite das eleições que não queria geringonça 2.0 e nós lhe viabilizámos dois
orçamentos e nunca nos assumimos com clareza como oposição?
O que estavam à espera do povo nestas últimas eleições, depois da indicação
dada pela queda de votação das Legislativas de 2019 em cerca de 10 pontos
percentuais, das perdas abruptas nas Presidenciais 2020 e nas Autárquicas 2021?
Afinal não temos em consideração nem queremos o voto dos eleitores para
lutarmos pela melhoria do País e da vida das pessoas?
O que estavam à espera do povo, depois de chumbarmos o Orçamento do Estado
2022, durante a campanha termos como reivindicação principal reunir com o PS no
dia seguinte às eleições para voltar a negociar um orçamento chumbado e fazer
um acordo de legislatura?
Perante o resultado, é preocupante que não haja abertura para o debate
sobre a linha política do partido. Assim será mais fácil para o Secretariado
Nacional, lavar as mãos face à derrota eleitoral, desculpando-se com a
incapacidade em “comunicar as razões profundas do chumbo do Orçamento do
Estado” e na bipolarização;
Houve bipolarização, mas é por aí que fica a justificação para perdermos ¾
do Grupo Parlamentar? Então durante toda a democracia, infelizmente, o poder
não foi sempre disputado por PS e PSD, que foram e são a testa de ferro da
finança e do capital? E o Bloco em situações anteriores de forte bipolarização
não conseguiu resistir? O que aconteceu agora?
Como iriamos ter capacidade de comunicar de forma que nos ouvissem com
credibilidade, depois de todos os labirintos traçados durante a campanha que
davam sempre na mesma falsa saída – “negociação com o PS”, em demérito da
acutilância da proposta política séria a que tínhamos habituado os eleitores
até 2015?
Não seria sério “pedir a cabeça” de quem quer que fosse, muito menos a da
Catarina Martins que deu a cara e se expôs a esta derrota. Todavia a culpa não
morre solteira e não pode deixar de haver responsabilidades, por isso se alguma
cabeça há que pedir é a da linha política dos últimos anos que falhou de forma
evidente. A perda de 14 deputados não pode, não deve ser levada com leviandade
e, muito menos, com arrogância. Esta derrota é grave e atinge as lutas de
trabalhadores, ambientalistas, feministas, ativistas LGBTQI+, antirracistas e
de todas as pessoas que se mobilizam por uma alternativa ao capitalismo.
E como afinal somos todos do mesmo partido e o meu voto vale exatamente o
mesmo do que qualquer camarada, anseio e apelo:
– Aos militantes revoltados – que se revoltem;
– Aos militantes insatisfeitos – que não saiam;
– Aos militantes invisíveis que aparecem nas listas e que votam – que
apareçam;
– Aos militantes que deixaram o partido – que regressem;
Cabe-nos a todos/as retomar o debate plural, por uma linha de autonomia sem
isolamento, de combate com radicalidade e proposta política séria, do
ecossocialismo sem medo das lutas pela utopia.
Para isso é preciso mudar a linha política e, sobretudo, ter a coragem para
a mudar, sem medo que a nossa democracia interna funcione com alta intensidade.
Pelo Bloco é assim que tem de ser, sem hesitações!
* João Carvalho
CONVERGÊNCIA26 DE FEVEREIRO DE 2022
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