É preciso um Bloco de Esquerda mobilizado, intransigente contra todas as formas de exploração, discriminação e violência!, por Pedro Amorim
A 21 de novembro de 2021, realizámos o nosso plenário distrital, para debater e votar as listas de candidatos/as às eleições legislativas de 2022.
Neste plenário, intervim, dizendo que o Bloco tinha todas as condições para fazer uma grande campanha de modo a obter um bom resultado eleitoral, que reforçasse a esquerda e referi que a campanha do Bloco não se afundasse na discussão sobre a reedição de qualquer tipo de "geringonça".
Não foi isso que se verificou.
Durante esta campanha eleitoral, realizei dezenas de chamadas telefónicas, percorri centenas de quilómetros, com o objetivo de convencer familiares e amigos/as a votarem no Bloco de Esquerda.
As opiniões que fui recolhendo dessas conversas não foram animadoras.
Embora alguns/mas continuem a afirmar que o Bloco é fundamental na vida política do nosso país e garantiram o seu voto, uma grande parte revelou estar desiludida com o Partido, já que a contínua procura de entendimentos com o PS retirou confiança a estes/as eleitores/as.
Infelizmente, os meus receios tornaram-se reais após o anúncio dos resultados eleitorais de 30 de janeiro.
A derrota eleitoral de 2022 começou a ser percetível no decurso da campanha, não pela dificuldade na mobilização de militantes, mas no contacto com as populações. O discurso centrado na aliança com o PS, sem que fossem apresentadas linhas vermelhas para uma eventual negociação, resultou nesta triste e amargurante realidade. Mais do que nunca, perante tão expressiva derrota política e eleitoral, importa realizar uma avaliação com humildade e coragem, recusar superficialidades e fazer um balanço profundo da orientação política do Bloco, nos últimos anos, e da estratégia tão fortemente criticada pelas eleitoras e pelos eleitores.
É essencial retirar conclusões do ciclo de derrotas eleitorais que temos vindo a sofrer, de modo a reconstruir um caminho de polarização à esquerda.
A mudança de rumo estratégico é inevitável.
Em todo este caminho, as organizações locais bloquistas foram desvalorizadas e a democracia interna degradou-se, tal como a participação e a pluralidade. Para dar corpo a esta "cultura geringoncista", diluiu-se a radicalidade identitária do Bloco, que o fez crescer e que possibilitou caminhos em largos setores de base de apoio bloquista.
É preciso um Bloco mobilizado na afirmação do seu programa, claro na definição das suas linhas vermelhas, intransigente contra todas as formas de exploração, discriminação e violência. Um Bloco que defenda os/as trabalhadores/as, que esteja fortemente representado no mundo laboral, sem esquecer as/os desempregadas/os e as/os pensionistas.
Afirmar um projeto político não era, nem é, sinónimo de isolacionismo. O que isolou e fragilizou a capacidade de resistir à polarização foi o afunilamento do discurso nas alianças com o PS.
Se, agora, não refletirmos, não nos interrogarmos, não mudarmos de linha política, é caso para lembrar aquela frase de mau gosto de que iremos "de derrota em derrota até à derrota final".
Por fim, quero aqui deixar bem claro que não peço a demissão da Catarina nem a cabeça de qualquer outro/a dirigente do Bloco. Sempre fui contra exclusões.
Quero, sim, a união e a cooperação de todas as sensibilidades que compõem o Bloco.
Será, assim, na construção desse novo rumo, porque, nesse processo, todas/os as/os militantes são importantes e fazem falta.
Viva o Bloco de Esquerda!
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