A análise dos resultados eleitorais tem de assentar em factos e situações da vida, no BE, desde 2015, por Francisco Amorim
Camaradas,
Neste momento, estamos a digerir e compreender como foi possível este desaire eleitoral.
É de primordial importância que se faça uma meditação profunda e uma séria discussão, ainda que firme e vigorosa, na expectativa de encontrarmos uma explicação plausível e autêntica para este desaire eleitoral. Isto não são tricas internas, como nos tentam vender! É o nó-górdio do estado do nosso Bloco de Esquerda. É o cerne do crescente mal-estar geral e deserção do Partido!
Esta derrota é tanto incompreendida e injusta como perigosa. Se, internamente, não formos honestos/as, inteligentes e politicamente corretos/as, estaremos, sem apelo nem agravo, a deixar apenas registado, na história da política Portuguesa, o retrato de penalizados figurantes, de um estratagema bem arquitetado pelo PS, impingido com êxito ao Povo Português, assaz tolerado pelo BE.
Estou convicto e disso tenho a certeza de que a direção do nosso partido é constituída por gente inteligente e com capacidades de raciocínio excecionais. Tem, por isso, consciência que o cerne desta derrota está entre nós. Logo, tem o dever de encontrar respostas certas e, daí, retirar ensinamentos para, futuramente, não haver espaço para equívocos com este impacto. Se assim não acontecer e aplicando os princípios de Peter, as/os camaradas dirigentes estar-se-ão a promover ao seu patamar de incompetência.
Esta análise, que deve ser intelectualmente honesta, e os diversos pontos de vista acatados, tem que assentar em factos e situações da vida do coletivo, desde 2015, e não baseada no "diz-que-diz", em preconceitos tendenciosos, mentiras grotescas e atentados à dignidade individual e do Partido como coletivo. Não demonstrarmos este cuidado pode ser o prenúncio de uma crise fatal, que poderá pôr em causa o futuro do BE, essencial na luta do Povo por um futuro mais próspero e justo.
Pela minha parte, não aceito que a justificação destes resultados eleitorais seja apenas e só o produto do contexto, isto é, do voto útil, da bipolarização e muito menos da sabotagem da comunicação social, como a maioria da Mesa Nacional (MN) apressadamente concluiu, na sua última sessão. Por azar da maioria da MN, no dia das eleições, não choveu. Se tivesse chovido, teríamos mais uma erudita justificação da ordem e dimensão metafísica das anteriores!
A origem deste fenómeno começa entre nós, com imorais comportamentos "autistas". Nas decisões de organização erradamente interesseiras, emparelhadas nas tendências absolutistas, desenraizadas da vida intensa das massas e da essência democrática do Partido. Está no medo do debate e consciencialização ideológica das massas simpatizantes e aderentes, na inconcebível ausência de organização de núcleos e, sobretudo, dos seus quadros intermédios que, ao nível concelhio, não passam de tarefeiros/as cola-cartazes ou ardinas de jornais, a mando das distritais.
O desgaste do Partido pelos desaires eleitorais anteriores foi subestimado e as conclusões retiradas impostas de acordo com as conveniências políticas das tendências que constituem a maioria da direção que decide no Partido.
O abandono do trabalho de massas, a desistência do mundo laboral, os múltiplos abusos de poder, a falta de democracia interna, a funcionalização controleira profissional e a discriminação castradora de opinião, a ausência de princípios de solidariedade e camaradagem e a difamação — poderiam produzir coisa diferente?
Não foram ou não estarão, nestas deformações de conduta, parte da explicação deste desaforo eleitoral?
Mas não só! O porte e aburguesamento dos/as deputados/as deslumbrados/as com a sua posição e captura do seu rendoso vencimento, empanturrados de importância e autosubsistência, que depressa abandonaram a rotatividade e a obrigação de informar e consultar as bases que responsabilizavam e comprometiam todo o Partido — não se refletiram nos resultados?
A dialética explica-nos que tudo contém os seus contrários. Então, agarramos nos seus ensinamentos e vamos transformar esta derrota num volte face, repondo o BE na sua rota e conceção originais. Haja determinação, bom senso, dignidade e juízo. Assim, o Bloco de Esquerda atingirá, mais cedo do que tarde, o predestinado poder revolucionário que, por direito próprio, o Povo esclarecido lhe confiará, repudiando interesses pessoais oportunistas, subserviências a partidos comprometidos com regimes capitalistas e corruptos, tipo PS!
Envolver galinhas com raposas nunca deu bom resultado. Não pretendamos ser raposas e muito menos galinhas!
Sem prejuízo de um estudo mais profundo, esteado na filosofia materialista, sente-se, de imediato, a falta de convicção e de coragem nas explicações da MN. Os métodos e meios utilizados, para a análise da atual situação do Partido, são ardilosos, titubeantes e sinuosos, são uma quimera, por isso, em confronto absoluto com a realidade e com a conceção marxista.
Para finalizar, camarada Catarina, sou um velho e abnegado militante operário da EFACEC, edificador do Bloco de Esquerda. Moldei a minha dignidade na experiência de uma vida vivida, difícil e dura. A minha querencia foi fundida com a luta revolucionária de defesa dos direitos dos/as trabalhadores/as. A consciência de classe revigorou a minha firmeza e resistência às boas e tentadoras propostas de carreira profissional. Fui educado politicamente para ser um combatente aguerrido contra o capital, em defesa dos/as mais débeis. Fui também moldado para ser leal e solidário com princípios revolucionários bem definidos. A insubmissão, o rigor e justiça estavam no programa. O combate à hipocrisia, à ambição e ao compadrio, também!
Por isso, camarada Catarina, aconselho-te veemente a meditar sobre este alerta e apelo que aqui deixo, com todo o respeito e lealdade institucionais que te devo, inerentes ao cargo a que te promovemos:
1) Grassam, no BE, as maroscas infratoras que minam as bases das nossas estruturas, estando a destruir a sua estabilidade e resistência, imagem e reputação. Os factos estão aí. Há, entre nós, pessoas que se atrevem a pensar que o BE é seu. Põem e dispõem, tipo capatazes.
2) Prevaricam, utilizam termos vexatórios e caluniosos de índole persecutória, indesculpáveis e inadmissíveis entre camaradas de um partido com as características do Bloco de Esquerda. Estarão estes/as camaradas convencidos/as que usufruem de um qualquer estatuto que lhes confere a imunidade comportamental?!
3) Por desconhecimento e conveniência, vejo, oiço e leio que estás a contribuir para a situação. O teu cargo exige imparcialidade. Os teus deveres exigem que deixes de ser parte do problema e passes a ser parte importante da solução.
4) Quanto à exigência da tua demissão é uma falácia urdida por quem nada tem a dar, dizer ou fazer em prol do engrandecimento do BE. Serão essas pessoas que se movem ao teu redor que, um dia, te irão destruir, sem apelo nem agravo, quando os seus mesquinhos interesses estiverem em causa. As suas cabeças vazias de consistência ideológica e de consciência de classe, cheias de ambição e bazófia burguesia, não olharão a meios para atingir os seus fins. Esta política já é uma realidade contra camaradas sérios/as e honestos/as, no BE, situação que tu bem conheces.
Viva o BE!
Vivam todos/as as/os camaradas do Partido, especialmente aqueles/as divergentes honestos/as da minha forma de pensar!
Porto, 10.02.2022
Nota de Rodapé: (1) O camarada Francisco Amorim foi interrompido pela direção da mesa do plenário e não teve oportunidade de concluir a sua intervenção.
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