MUITO POUCOCHINHO


 


O ORÇAMENTO DA ESMOLA E DA CARIDADEZINHA

Muito repetiu António Costa que a proposta de Orçamento para 2022 era o mais à esquerda e o que mais medidas «boas» trazia para os trabalhadores, não se entendia como a esquerda poderia votar contra!

Palavras lindas e repetidas até à exaustão! Será assim?

Vamos aos factos que contra factos os argumentos falaciosos caem por terra.

Alguns exemplos:

         – Aumento da função pública de 0,9%. Sendo o salário médio da função pública de 950,4 euros, um aumento destes significa 8,55 euros, ou seja, menos de 30 cêntimos por dia. Mas se formos ao salário mínimo da função pública, o aumento será de 5,99 euros mês, ou seja, menos de 20 cêntimos por dia.

         – No caso dos reformados, para a reforma mínima, que é de 270,50 euros, seria de 10 euros (aumento extraordinário) mais 2,43 euros,  ou seja, 12,43 euros, o que daria para a a reforma mínima a totalidade de 282,84 euros. Alguém pode viver em Portugal com 282,84 € ????

Dr. António Costa é muito poucochinho, é uma esmola.

         – Para as horas extraordinárias até parece que o governo fez uma cedência. A troica impôs uma diminuição drástica do valor das horas extraordinárias. O poucochinho Costa encontrou um poucochinho para remediar… Nas primeiras 120 horas continua o valor imposto pela troika, a miséria de trabalho quase de graça para o capital e apenas se restituía o seu valor original para as restantes 30 horas. Muito poucochinho! Uma esmola.

Apenas estes três exemplos para provar como este era um orçamento da esmola, da caridadezinha.

Mas o principal lema, repetido vezes sem conta, para justificar este poucochinho por parte do António Costa foi: «Não podemos dar um passo maior que a perna».

Mas a única que tem dado um passo maior que a perna, é a perna direita que tem dado passos gigantescos.

Olhemos o que este orçamento previa para os bancos falidos que o Estado nacionalizou.

         – 117 milhões para o BPN, criado por Cavaco Silva e «sus muchachos», depois de, desde 2009, dos impostos dos portugueses já terem sido gastos 6.200 milhões de euros para este banco

         – 178 milhões para o Banif que se vão somar aos mais de 3.000 milhões roubados nos anos anteriores aos impostos dos trabalhadores para mais esta falência financeira

Neste orçamento para 2022 só BPN, mais BANIF iriam receber cerca de 300 MILHÕES. A somar aos mais de 20.000 milhões que os vários governos PS, PSD/CDS e PS de novo, já deram aos banqueiros desde a crise de 2008.

Só para termos um termo de comparação o custo do alívio previsto com os novos escalões do IRS é de 205 milhões.

O custo previsto com o aumento das pensões anda perto do 80 milhões.

Mas há mais. Neste orçamento ainda estava previsto 1.360 milhões para pagar as PPPs. Não esteve previsto no primeiro acordo BE/PS a renegociação das PPPs?

Mas ainda não terminou. Para pagar apenas os juros da dívida externa, este orçamento previa 5.108 milhões para os financeiros usurários internacionais. Houve uma comissão conjunta PS/BE para estudar a renegociação da dívida externa, no início da geringonça que produziu um documento conjunto? Que é feito desse documento? Que foi feito com ele? O Costa meteu-o na gaveta, seguindo o exemplo de Mário Soares que já tinha metido o Socialismo na gaveta.

Somando tudo isto obtemos a módica quantia de 6.768 milhões para o capital financeiro.

Já sei que vêm as más línguas dizer que era impossível não colocar essas rubricas no orçamento!!!!

Mas não era possível renegociar dívida? Renegociar as PPPs para libertar mais alguns milhares de milhões de euros para quem trabalha ou já trabalhou uma vida inteira?

Em vez de continuarmos a desbaratar dinheiro com o BPN, não era possível ir buscar o pagamento ao seu principal acionista, a SLN, dirigida na altura por Dias Loureiro vice-primeiro ministro de Cavaco Silva? O mesmo para o BES, BNIF BPP, etc.?

Alguém tem dúvidas que se um pequeno ou micro empresário for à falência ir-lhe-ão buscar todos os seus bens e até a sua habitação?

A SLN mudou de nome. Hoje chama-se GALILEI e prospera em negócios imobiliários, turismo e petróleo em Angola. O costume: os pobres que paguem a crise!

Esta é a verdadeira realidade deste orçamento para 2022. Milhares de milhões para o capital financeiro e uma esmola de caridadezinha para o povo trabalhador.

É esta explicação que temos de fazer para mostrar a justeza do BE e do PCP terem votado contra este orçamento da caridadezinha …

Ao não mostrarmos para onde vai a grande fatia do dinheiro abrimos espaço a que pareça, o voto contra, uma coisa de luta entre partidos e pior abrimos espaço para as forças neofascistas virem dizer que a culpa de não haver dinheiro é dos subsídios aos ciganos, aos pretos, aos emigrantes ou refugiados.

A isto ainda podemos acrescentar o relatório em 2018, apresentado no Parlamento Europeu, que calcula que em Portugal são desviados POR ANO 18,2 mil milhões de euros!

Não precisamos de ter dúvidas. O foragido Sr. Rendeiro, chefe do BPP, num ano vendeu quadros do Estado, que estavam na sua posse, num valor superior a um milhão de euros! E a esposa chorava….!

Será por isso que não avançam as leis anticorrupção, nem o dinheiro necessário para as polícias investigarem estes roubos do erário público?

E, António Costa, ainda tem coragem de dizer que não há dinheiro e que não se pode dar um passo maior que a perna?

Todo este roubo dos nossos impostos devia ser devolvido ao povo em salários, segurança social, reformas, ensino, saúde e habitação.

É minha convicção que para melhorarmos decididamente a vida dos trabalhadores portugueses e nos aproximarmos da tão propagandeada europa é urgente e necessário um aumento sério do salário mínimo para os 850 euros, como defendem os sindicatos.

Este aumento é necessário e urgente:

         – Para melhoria da vida de quem trabalha;

         – Porque a melhoria de vida aumenta o consumo, que impulsiona a economia;

         – Porque o aumento do salário mínimo vai obrigar as empresas a evoluir tecnologicamente para aumentar a produtividade e não assentarem os seus lucros na mão-de-obra barata.

A média do salário mínimo na Europa é de 1.007 euros!

Olhemos alguns exemplos para vermos o escândalo do salário mínimo em Portugal:

Luxemburgo 2.201 euros;

Irlanda 1.723,80 euros;

Holanda 1.684,80 euros;

Bélgica 1.594,00 euros;

França 1.554,58 euros.

E a Alemanha anunciou a intensão de aumentar o salário mínimo de 1.577,00 euros em cerca de 400 €.

Como explicar que estes países tenham uma economia muito mais desenvolvia que Portugal com salários mínimos que são 200 e 300% superior ao português?

O dinheiro existe!

Se somarmos a corrupção, mais os pagamentos do OE aos capitalistas financeiros estaremos a falar de 25 MIL MILHÕES DE EUROS. Note-se que neste valor não se inclui perdões de dívidas a grandes empresas, nem o escândalo da venda das barragens, nem perdões de impostos, incentivos fiscais, offshores com fuga ao fisco, etc etc etc

É sempre a mesma melodia. Para os financeiros não existem passos pequenos.

E como António Costa usou um poema de Jorge Palma é caso para relembrarmos o último verso da música de José Barata Moura:

«Não vamos brincar à caridadezinha»

É muito poucochinho!

* Carlos Marques

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ESPALHEM A NOTÍCIA...


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